O turnaround da Construtora Tenda 

Por Alexandre Bastos

Turnarounds 

No jargão dos investidores há um termo de difícil tradução para o português: “turnaround”. Por esse nome, designa-se empresas em dificuldades que precisam “virar” o negócio para voltar a dar resultados. “O grande problema dos turnarounds, disse certa vez Warren Buffet jocosamente, é que raramente “viram”. 

Não é fácil investir em turnarounds. Muitas vezes os investidores se sentem atraídos por tais empresas porque parecem baratas, em uma análise de múltiplos, se comparada com outras mais bem sucedidas. Foi o caso, em anos passados, de BHIA versus MGLU. Na maioria das vezes, contudo, os baixos múltiplos são justificados por dívidas altas ou pela baixa qualidade do negócio. 

Dito isso, quando o turnaround tem êxito pode ser um grande negócio para o investidor, que vê a valorização alcançar números estratosféricos. O próprio Buffet soube tirar proveito disso com as ações da seguradora GEICO, que foram um dos maiores sucessos da sua carreira. Quando investiu na empresa, a seguradora estava às portas da falência. Quinze anos depois, os USD 45,7 MM que desembolsara pelas ações da companhia valiam nada menos que USD 2,4 bilhões! 

Uma ação que “virou” 

A ação que mais subiu na bolsa brasileira em 2023 foi a da construtora Tenda, com alta de 250%. A companhia, que é atualmente a quinta maior no segmento da habitação popular, passou por maus bocados nos anos 2021-22, após uma série de erros operacionais.  

O que aconteceu foi que a companhia acelerou bastante o ritmo de lançamentos nos anos 2020-21, ultrapassando a marca de 20.000 unidades vendidas em um ano. Nesse tempo, a empresa apostou em um modelo de torres altas, afastando-se do seu modelo consagrado de negócio, que emulava uma linha de montagem.  

Então, veio os lockdowns e todas as obras atrasaram. A inflação da construção civil explodiu, alcançando 14% em 2021 e 9,4% no ano seguinte. A empresa reportou estouro de custo em todas as obras chegando a apresentar margem bruta negativa. 

No ano de 2022, o prejuízo alcançou a cifra de R$ 540 milhões e a ação caiu incríveis 75% no ano! 

A administração da empresa não ficou de braços cruzados. Ela demitiu funcionários, aumentou os preços dos imóveis, renegociou dívidas e teve sucesso em captar recursos no mercado com uma emissão de ações (follow-on), o que reduziu consideravelmente a sua alavancagem.  

A Tenda mudou o processo de orçamentação, o controle de custos, o sistema de incentivos e passou a embutir previsão de inflação e contingência nos seus cálculos de margem. Como resultado, a companhia voltou a apresentar lucro líquido no primeiro trimestre de 2024 – o primeiro resultado positivo em dois anos. 

Sorte nos negócios 

O sucesso não costuma vir desacompanhado de um pouco de sorte, e não foi diferente aqui. A inflação da construção civil despencou e, em 2023, o governo federal quis recriar o programa Minha Casa, Minha Vida em termos mais atraentes, lançando uma série de incentivos para o setor. O novo MCMV aumentou subsídios, elevou o teto de preços, alongou os financiamentos e reduziu a carga tributária para as incorporadoras.  

Além disso, alguns governos estaduais e municipais também lançaram programas de incentivo à habitação popular. É o caso do “Pode Entrar” na cidade de São Paulo, ou do “Morar Bem” em Pernambuco.  

Tudo isso ajudou na retomada da Tenda e nos leva a esperar dias melhores à frente para a companhia. O mercado tem acompanhado a ação atentamente, e hoje seis dos oito analistas que cobrem o papel tem recomendação de compra. O consenso de mercado é R$14,5, o que representa alta de 35% nos preços atuais. 

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