Confiança e transparência: o novo valor que sustenta o mercado financeiro 

Durante décadas, o mercado financeiro foi impulsionado por métricas objetivas, retorno, risco, liquidez. Hoje, porém, cresce o reconhecimento de que a confiança é o ativo intangível que sustenta todos os outros. Em meio à volatilidade global, tensões geopolíticas e políticas monetárias restritivas, a confiança se tornou o principal fator de estabilidade e perenidade das instituições financeiras. 

Segundo a Ata da 272ª Reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de julho de 2025, o ambiente econômico continua desafiador, com expectativas de inflação desancoradas e projeções acima da meta oficial (4,9% em 2025 e 3,6% em 2026). A manutenção da taxa Selic em 15% ao ano reflete o compromisso do Banco Central com a previsibilidade e a estabilidade, elementos fundamentais para sustentar a confiança de investidores e agentes econômicos. 

Esses dados dialogam com o Relatório Focus de agosto de 2025, que aponta inflação projetada em 5,05% e PIB em 2,21%, indicando um cenário de moderação da atividade econômica e política monetária contracionista. Nesse contexto, a credibilidade das instituições financeiras, públicas e privadas, torna-se determinante para manter o fluxo de investimentos e o equilíbrio do sistema. 

O ativo invisível que move o sistema financeiro 

Confiança é um conceito intangível, mas de valor mensurável. Um estudo do Edelman Trust Barometer 2025 mostra que 81% dos investidores priorizam empresas com práticas transparentes e comunicação clara, mesmo que isso implique retornos menores no curto prazo. A previsibilidade e a coerência nas decisões, tanto regulatórias quanto empresariais, são hoje os fatores mais associados à percepção de valor. 

No mercado financeiro, a confiança se manifesta em diferentes dimensões: 

  • Na governança, pela adoção de políticas éticas e de gestão de riscos; 
  • No compliance, pelo alinhamento a normas e auditorias independentes; 
  • Na comunicação, pela clareza e tempestividade das informações. 

Cada uma dessas dimensões impacta diretamente o custo de capital e a disposição do investidor em se manter posicionado em um determinado ativo, fundo ou instituição. 

Governança e transparência: de obrigação a diferencial competitivo 

As boas práticas de governança e transparência deixaram de ser apenas exigências regulatórias para se tornarem estratégias de diferenciação. Instituições que comunicam de forma clara suas decisões, riscos e resultados conquistam uma vantagem competitiva duradoura, reduzindo assimetrias de informação e fortalecendo a confiança de longo prazo. 

Um exemplo recente é o esforço do Banco Central do Brasil em reforçar sua comunicação institucional. Ao divulgar com clareza os fundamentos de suas decisões, como a necessidade de manter juros em patamar contracionista “por período prolongado”, o BC sinaliza comprometimento com a estabilidade e com a transparência, mesmo diante de incertezas fiscais e externas. 

Da mesma forma, gestoras e instituições financeiras têm ampliado seus relatórios de governança, publicando métricas ambientais, sociais e de governança (ESG), análises de risco e políticas de integridade. Essa transparência não apenas atende à regulação, mas cria reputação, reduz o prêmio de risco e atrai investidores institucionais, cada vez mais atentos à coerência e à ética corporativa. 

Ética e comunicação: os fundamentos da credibilidade 

A confiança nasce da coerência entre discurso e prática. Uma instituição pode ter rentabilidade elevada, mas sem clareza sobre como a alcança, dificilmente sustentará reputação no longo prazo. Por isso, ética e comunicação são dimensões complementares da credibilidade

Relatório Global de Riscos 2025, do Fórum Econômico Mundial, aponta que 64% dos líderes financeiros veem a falta de transparência nas decisões corporativas como o principal fator de desconfiança entre investidores e reguladores. A clareza, portanto, não é apenas um atributo de governança, é também uma ferramenta de gestão de riscos reputacionais. 

Transparência implica não apenas publicar números, mas comunicar decisões complexas de maneira compreensível, acessível e tempestiva, especialmente em momentos de tensão de mercado. Esse alinhamento entre estratégia, narrativa e entrega é o que separa empresas que inspiram confiança daquelas que apenas a prometem. 

O futuro da confiança: previsibilidade e consistência 

Em um cenário em que o ambiente global é descrito pelo próprio Copom como “mais adverso e incerto”, a previsibilidade passa a ser uma forma de segurança. Instituições que se comprometem com políticas estáveis, processos auditáveis e comunicação honesta reduzem o ruído e constroem resiliência, não apenas financeira, mas reputacional. 

A confiança é, portanto, um processo cumulativo: nasce da coerência, amadurece na transparência e se consolida na consistência. E, como afirma o lema que deve guiar o setor, “a confiança não se promete, se constrói, com transparência e consistência.” 

Sobre a Acura Capital 

Acura Capital é uma gestora independente que alia análise técnica rigorosa, transparência e ética para entregar resultados sustentáveis a longo prazo. Sua atuação é guiada pela convicção de que a confiança é o principal ativo de uma relação duradoura com o investidor, e que governança, comunicação clara e consistência são os pilares que sustentam esse valor em um mercado cada vez mais exigente e dinâmico. 

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